Escolhas: Uma questão de sobrevivência

Os resultados dependem das nossas escolhas

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Foto: Reprodução

Se há coisa que aprendi, por uma questão de «sobrevivência», é que na vida temos as «chaves» das escolhas na mão. Tal como as de casa, do carro ou do escritório. São nossas e não as damos, sem mais nem menos, a ninguém. Porquê? Porque escolher é um ato intransmissível de liberdade.

Em tudo podemos dizer «sim» ou «não». Nada, absolutamente nada nos é interdito. Nem o bem nem o mal. Nem o heroísmo nem a cobardia. Podemos virar as costas, ou «dar a cara». Podemos seguir as nossas paixões e deixá-las voar, sejam quais forem as consequências, ou podemos cortar-lhes as asas. Podemos ser honestos ou desonestos, santos ou pecadores.

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Sim, podemos tudo, mas para tudo há um preço a pagar que se chama «consequência». Uma escolha implica sempre ganhar e perder. Ganha-se algo em sacrifício de algo que se perde, e é precisamente por isso que «escolher» pode ser tão difícil. Esse «ganhar» e esse «perder» jogam-se em equilíbrio precário, na eterna luta que já «Eva e a serpente» travaram nos primórdios do mundo. Muitas vezes é impossível resistir à «maça» que promete sonhos, alegria, aventuras e desafios, por isso cair em tentação é, basicamente, assumir que as consequências virão depois. Que no momento da escolha não pesam. Por vezes implicam até o «endividamento» total de uma vida, mas no momento de decidir a escolha caiu para o lado «errado» da balança, num jogo de roleta, perdido à partida, mas que se joga até ao fim, simplesmente…porque sim…simplesmente porque não se pode evitar.

Fazendo a escolha certa

Também há aqueles momentos em que, apesar de sabermos que a escolha «certa» é um sim ou um não, escolhemos um «nim». Nem não, nem sim. Como costumo dizer, com a boca dizemos não, mas com a cabeça dizemos «sim». Ou vice-versa. E ficamos no meio da «ponte», sem saber que rumo tomar. São os momentos em que não escolher é uma espécie de escolha. Mais tarde ou mais cedo o impasse irá ser quebrado, mas o que irá pesar nesse momento é muito mais uma sensação interior de urgência ou limite, que segreda à alma: «Chegou o momento…», do que propriamente os valores, medos, ou razões lógicas que uma pessoa tem como bússolas.

As escolhas, deixem que o afirme, não são só lógicas, porque quando implicam sentimentos, a razão pode ficar muda de argumentos, que o coração recusa. Há por exemplo aquele tipo de escolhas que eu chamo de «impossíveis». Aquelas que, seja qual for a opção, trazem uma dor dilacerante consigo. É quase como pedir a uma mãe que entre dois filhos escolha o que se salva e o que será sacrificado. Há escolhas dessas, que amputam a alma e a deixam aleijada para toda a vida. Mas o processo é irreversível. De uma forma ou de outra, mais tarde ou mais cedo, entre duas opções uma terá de ser adotada e outra terá de morrer.

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Escolher é, pois, um exercício que passa por tudo o que pensamos e fazemos, desde escolher a cor da camisola que iremos usar nesse dia, às relações que mantemos ou rompemos, aos negócios que levamos a cabo ou recusamos fazer. Passa por tudo o que somos, por isso não devem ser feitas de ânimo leve. As nossas escolhas escrevem o guião da nossa vida e influenciam de forma incisiva outras vidas.

Acredito que tudo o que fazemos afeta o mundo inteiro. Literalmente. Cada uma das nossas escolhas «bate» no lago da vida e produz uma espécie de vibração que muda o mundo. Não, não estou a brincar com as palavras. Tenho a certeza que se estou aqui, neste momento, a pensar e a escrever, o faço porque se calhar há milhares de anos alguém descodificou a palavra «escolha». Os seres humanos são como os elos de uma corrente, embora a maioria se recuse a aceitar esta evidência. A prova é que o movimento de um só elo afeta a corrente inteira. Tal como as nossas escolhas implicam consequências e estas, por sua vez, não nos tocam só a nós, mas a todos aqueles que irão afetar, direta ou indiretamente.

Como tão bem disse Augusto Cury, «Cada ser humano, seja ele um intelectual ou um analfabeto, é uma grande pergunta em busca de uma grande resposta» e acrescenta que «o tamanho das perguntas determinam o tamanho das respostas». É como as nossas escolhas. São elas que determinam o nosso futuro e a forma como as levamos a sério, ou nem por isso, determinam a qualidade da nossa felicidade e da dos que nos cercam.

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Fase de arrumação

Não me perguntem porquê, até porque, como estou numa fase crítica de «arrumação» interior, despejei as «gavetas» da alma e ando a arrumar e a selecionar o que lá armazenei – muita coisa vai ser posta fora, estou certa! – mas há uma certeza irritante que me acompanha e da qual acho que nunca me vou livrar, porque a tenho impressa como uma tatuagem na alma: sejam quais forem as «escolhas» que eu opte por fazer na minha vida, e seja qual for o preço que eu esteja disposta a pagar, em termos de consequências, há um limiar que me parece impossível ultrapassar.

É esse ponto limite, onde a minha liberdade embate. É onde as tentações se encolhem. É onde a rebeldia se cala e o bom senso tem levado a melhor. É essa certeza terrível, como um anátema, que me diz, sem margem para discussões, que posso tudo sim, que posso render-me a tudo, mas que há algo que nunca posso: trair-me a mim mesma. Esse é o limite de qualquer escolha. Aquele ponto em que , mesmo que nada mais tenha peso ou lógica suficientes, percebemos que a luta chegou ao fim.

Trairmo-nos a nós mesmos é destruir a nossa essência, o nosso brilho, a nossa nascente da paz, a nossa felicidade. Trairmos o que somos provoca um «eclipse» irreversível na nossa autoestima e autorrespeito. E, esse preço, sei que não teria como pagar. Também não tenho muito mais a acrescentar, mas achei que era importante, em espírito de solidariedade com todos aqueles que estão «no meio da ponte» e se confrontam com escolhas aparentemente impossíveis, partilhar esta conclusão.

Não sei se por acaso ou não – e eu até acredito que Deus escreve mensagens nos acasos – ao arrumar a minha alma encontrei, no fundo de uma «gaveta», a palavra escolhas e, antes de decidir em que local a guardar outra vez, decidi tomar-lhe o peso na mãos e descobri, com espanto, que afinal tem o peso do universo…